Mico na festa da democracia

Acordei em Limeira para a festa da democracia, minha cidade natal e onde ainda voto. Ignorei o recado antipartidário que meu pai colou na porta, me inspirei no presidenciável Eduardo Jorge e resolvi ir de bicicleta até a urna.

Minha seção eleitoral fica na escolinha de um bairro rural a 12km da cidade, ao lado do sítio onde eu morava na época que me mudei para São Paulo. Parei no posto encher o pneu da bike e vambora. Subida, descida, e em uma troca de marcha malsucedida a corrente soltou. Parei, arrumei. Enchi a mão de graxa.

Sol na cabeça, suor na cara. Limpei o suor da cara. Cheguei no bairro e parei direto na escolinha para votar. Entrei, as pessoas me olhando estranho. Bairro pequeno, todo mundo se conhece. Eu devo ser um estranho aqui para eles, pensei.

Dever cumprido, fui até o sítio encontrar meu pai. Ele me olha e pergunta: “Que cara é essa?”. Fui ao banheiro e me vi no espelho. Ao redor dos meus olhos, duas manchas pretas enormes me faziam parecer um panda.

Paguei mico na festa da democracia. Eu votei com a cara cheia de graxa.